quinta-feira, 22 de julho de 2010

Grazie, Alfredo!

Pessoalmente, não há filme mais belo e inocente que “Cinema Paradiso” (“Nuovo Cinema Paradiso”, Itália, 1988), de Giuseppe Tornatore. Ele nos conta a história de Salvatore Di Vita (Jacques Perrin), que ao descobrir da morte de Alfredo (Philippe Noiret) se lança em um flashback de sua infância em sua cidade natal Giancaldo.

Salvatore, mais conhecido à época como Totó (Salvatore Cascio), era apenas uma criança quando conhece o Cinema Paradiso. Sempre arrumando confusão, cochilava na igreja como o coroinha; espiava pelas cortinas do cinema, enquanto o padre censurava as cenas; fingia machucar o pé para conseguir carona de bicicleta e ainda gastava o dinheiro do leite para ir ao Paradiso. Além disso, mesmo sem permissão, entrava na cabine do projetor Alfredo, de onde roubava alguns frames de negativos esquecidos. Como a imaginação infantil é interessante: com apenas um destes pedaços, ele já criava uma história.

A vida de Totó se resumia à escola com todas suas excentricidades e ao Paradiso. E no início dos anos 30, ir ao cinema era uma grande experiência: crianças imitavam os índios da tela, a comédia era super ingênua e beijos eram considerados pornografia. Até os adultos se comportavam como meninos, batendo palmas todos juntos para acordar um dorminhoco. É então, que através de uma pequena chantagem, Totó começa a trabalhar com Alfredo, que o ensina tudo sobre a projeção de um filme.
O tempo passa e vê-se a realidade da bella Itália: mulheres pintando na praça, muitos analfabetos que não entendem os intertítulos dos filmes, a máfia napolitana por trás de certos favores e os primeiros sinais da guerra. E assim Totó cresce, começa a documentar sua vida em 16mm e conhece Elena (Agnese Nano). E como em todo primeiro amor, é incrível as baboseiras que se faz, esperando tê-lo contribuído. Tudo caminha bem, no entanto, Salvatore deve ir embora, retornando nostálgico só anos depois para o funeral de Alfredo.
O longa-metragem presta atenção nos mínimos detalhes, como se fotografasse pequenos rituais do cotidiano – sinos batendo, mãos fazendo tricô, mulheres enchendo vasos d’água na fonte – e são esses momentos que dão o feeling do filme. Além disso, com a trilha sonora estupenda de Ennio Morricone, a simplicidade das vidas e a serenidade da cidadezinha tornam-se mágicas.
Incrivelmente metalingüístico, este é um filme que fala sobre filmes, se passa num cinema e conta a história de um cineasta. Assim é dificílimo ele não apelar aos cinéfilos, aos quais recomendo aguardarem a cena final, na qual é impossível não ficar arrepiado quando a promessa é cumprida.

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